16/10/2025
“Yanuni”, de Richard Ladkani

Em sua 49ª edição, a Mostra Internacional de Cinema em São Paulo reafirma o seu compromisso com a pluralidade de histórias com uma seleção de filmes sobre narrativas indígenas. Documentários, animações e filmes infantis compõem as histórias presentes no festival, mostrando panoramas que ampliam o entendimento sobre as culturas, memórias e lutas dos povos originários.
O documentário “Itacoatiaras”, de Sérgio Andrade e Patricia Goùvea, é uma investigação de dois territórios com a mesma toponímia, mas distantes milhares de quilômetros no mapa do Brasil: a Itacoatiara de Niterói, no estado do Rio de Janeiro, e a Itacoatiara do estado do Amazonas. Originária do termo indígena Tupi “i’tá kwati’ara”, que se traduz por “ita”, pedra, e “quatiara”, pintada, riscada, o filme reúne histórias esquecidas dos dois lugares e revela mundos que emergem das pedras, evocando narrativas universais de memória e resistência.
“O Pai e o Pajé”, dirigido por Lawarete Kaiabi, investiga o impacto da conversão religiosa entre os povos do Xingu. A partir de sua própria história familiar, o diretor retrata como a presença de missionários evangélicos têm influenciado as comunidades locais, provocando rupturas culturais e espirituais entre cristãos e não cristãos.
Focado em Juma Xipaia, “Yanuni” traz um retrato da liderança indígena da Amazônia brasileira. Sobrevivente de seis tentativas de assassinato e nomeada a primeira Secretária de Direitos Indígenas do Brasil, Juma se vê forçada a lidar com o custo pessoal da sua resistência. Exibido no Festival de Tribeca, o filme é uma poderosa história sobre soberania indígena, amor e a luta urgente para proteger o planeta.
Entre os documentários com a mesma temática está o americano “Libertem Leonard Peltier”. Exibido no Festival de Sundance, o filme revisita a controversa condenação do ativista indígena, preso há quase 50 anos, para narrar a campanha por sua libertação. Com imagens de arquivo e recriações em IA, o filme rememora a repressão ao American Indian Movement nos anos 1970 e o cerco do FBI à Reserva de Pine Ridge, que marcou a trajetória de Peltier.
Além de temas ligados à resistência indigena, há também na seleção do festival narrativas com a presença de personagens de povos originários. É o caso do segundo longa de Djin Sganzerla, “Eclipse”. No filme, a grávida Cleo vê sua vida abalada pela chegada de Nalu, meia-irmã indígena com uma misteriosa conexão com uma onça. A visita e a revelação de um segredo despertam lembranças adormecidas e desestabilizam Cleo profundamente.
“Aventuras de Makunáima”, presente na 2ª Mostrinha, acompanha Makunaíma, que ao visitar Wararaa’Pay, percebe algo diferente, transforma-se em bicho e reencontra nas crianças — em suas músicas, danças e brincadeiras — as narrativas ancestrais que resistem ao tempo e reafirmam a vitalidade das tradições indígenas.
A animação brasileira “Nimuendajú”, que foi exibido no Festival de Cinema de Animação de Annecy, narra a história do alemão Curt Unckel, um dos maiores cientistas sociais do Brasil. Por 40 anos, Curt conviveu com diferentes povos indígenas, sendo batizado pelos Guarani com o nome Nimuendajú, “aquele que encontrou seu lugar no mundo”, e abandonando seu sobrenome de família para adotar o nome indígena. Sua trajetória é marcada pela busca incessante pela compreensão de diversas culturas e pela vivência profunda com elas.