Jornal da Mostra

05/10/2025

Mostra apresenta três títulos da filmografia do diretor Želimir Žilnik, entre eles seu mais recente trabalho, "Depois dos Oitenta"

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Želimir Žilnik e imagem do filme “Depois dos Oitenta”

Juri da 47ª Mostra
Juri da 47ª Mostra

Um dos nomes centrais do chamado Black Wave (Onda Negra), movimento do cinema iugoslavo dos anos 1960 e 1970 marcado por uma postura crítica em relação à sociedade e ao regime socialista da época —, o diretor sérvio Želimir Žilnik é dono de uma obra não apenas historicamente importante: era avançada quando ele começou, 60 anos atrás, e continua atual e inventiva no século 21. 

Em sua 49ª edição, a Mostra Internacional de Cinema em São Paulo revisita a filmografia de Žilnik e apresenta três das suas obras fundamentais: “Primeiros Trabalhos” (1969), seu longa-metragem de estreia, premiado com o Urso de Ouro no Festival de Berlim, “Marble Ass” (1995), que recebeu o Teddy Bear também na Berlinale, e o recentíssimo “Depois dos Oitenta”, apresentado na edição de 2025 do festival alemão.

Assumindo a forma de uma alegoria, "Primeiros Trabalhos" acompanha a trajetória de um grupo de jovens manifestantes que participaram dos protestos estudantis de junho de 1968 em Belgrado. Três rapazes e uma garota, Yugoslava, desafiam a rotina pequeno-burguesa do cotidiano. Movidos pelo desejo de "mudar o mundo" e inspirados pela obra do jovem Karl Marx, eles seguem para o campo e para as fábricas na tentativa de "despertar a consciência popular" e estimular a luta por emancipação e por dignidade.

Já em “Marble Ass”, feito três décadas depois, Žilnik demonstra que estéticas engajadas não podem ser rígidas e reféns de fórmulas. Em plena Guerra da Bósnia, o realizador faz um retrato do cotidiano inusitado e clandestino de Merlyn, que atua como uma força pacificadora nos Bálcãs, encontrando uma forma de acalmar inúmeros homens sérvios em seus encontros. Enquanto o governo sérvio exterminava as minorias étnicas, ela acalma o fervor desses homens em meio à convulsão social e os alimenta com amor.

Trinta anos mais tarde, Žilnik chega incansável e atento ao presente em “Depois dos Oitenta”. No longa, depois de seis décadas vivendo na Alemanha, Stevan, um pianista de jazz retorna à Sérvia, sua terra natal. Após a conclusão de um extenso processo burocrático de restituição pós-socialista, o governo confirma a devolução de uma antiga mansão familiar confiscada pelo Estado e que pertencia aos seus pais. Através de inúmeros encontros e reencontros, Stevan inicia um novo e inesperado capítulo em sua vida, em um retorno às origens carregado de ironia e nostalgia.