CARLO DI CARLO REVELA O LADO DESCONHECIDO DE ANTONIONI EM ENCONTRO NA FAAP
Texto: Bruna Haddad
Edição: Thiago Stivaletti, Leon Cakoff e Renata de Almeida
O diretor e crítico italiano Carlo di Carlo encontrou o público na quarta 27 de outubro na FAAP após a exibição do curta Le Regard Imposé e de seu média-metragem Antonioni Sobre Antonioni.
Seu documentário Antonioni Sobre Antonioni foi finalizado em 2008, um ano após a morte do diretor. Projeto antigo, o filme renasceu da vontade de devolver a voz ao mestre italiano, que no inverno de 1985 foi acometido por uma doença que o impediu de ler e falar. Parecia-me justo dar espaço à palavra dele, declarou.
O filme desconstrói o mito de um Antonioni sisudo e revela seu bom humor e genialidade. Antonioni era conhecido como uma pessoa de poucas palavras, incomunicável. Ele foi considerado o inventor da incomunicabilidade, comentou Carlo. Mas na televisão, quando a entrevista era bem feita, ele se sentia à vontade. Era assim que ele era com os amigos.
Entre as muitas histórias que Carlo di Carlo contou, uma delas releva o caráter competitivo e difícil de Antonioni. Depois de quatro meses sem conversar com um amigo após a derrota numa partida de ping-pong, Antonioni ligou para ele convidando-o para a revanche e venceu. Anos depois, ele me contou que treinou durante os quatro meses num clube chinês para poder vencer aquela partida, comentou rindo.
Di Carlo mudou-se de Bologna para Roma em 1961. Conheceu Pasolini durante a exibição de seu curta La menzogna di Marzabotto (1961). Começou uma amizade com ele e Antonioni, cineastas que, em suas palavras, não se gostavam culturalmente. Foi assistente de direção de Pasolini nos filmes Mamma Roma (1962) e A Raiva (1963), e assistente, amigo de longa data e responsável pela dublagem italiana de produções internacionais de Antonioni. Quando nos conhecemos eu tinha 23 anos, crescemos muito como amigos. Viajamos muito juntos.
Em 2004, di Carlo foi sozinho acompanhar a primeira exibição de China (1972), de Antonioni, no país - o cineasta estava debilitado demais para a viagem. O documentário foi proibido pelo governo chinês durante a Revolução Cultural. Antonioni não entendia a proibição de algo que tinha feito com tanto amor. Ele não era ativista. Esta visão fez com que o diretor fosse considerado um cineasta apolítico - mais um mito que di Carlo tratou de desmistificar: Ele era uma pessoa de esquerda, mas não era militante. Os cineastas de esquerda do pós-guerra o acusavam de apolítico porque ele tratava da burguesia em seus filmes. Não tratava os problemas no preto ou no branco, mas em nuances de cinza que existiam entre eles.