Jornal da Mostra

28/10/2010

CARLO DI CARLO REVELA O LADO DESCONHECIDO DE ANTONIONI EM ENCONTRO NA FAAP

Juri da 47ª Mostra
Juri da 47ª Mostra
Texto: Bruna Haddad

Edição: Thiago Stivaletti, Leon Cakoff e Renata de Almeida

O diretor e crítico italiano Carlo di Carlo encontrou o público na quarta 27 de outubro na FAAP após a exibição do curta “Le Regard Imposé” e de seu média-metragem “Antonioni Sobre Antonioni”.

Seu documentário “Antonioni Sobre Antonioni” foi finalizado em 2008, um ano após a morte do diretor. Projeto antigo, o filme renasceu da vontade de devolver a voz ao mestre italiano, que no inverno de 1985 foi acometido por uma doença que o impediu de ler e falar. “Parecia-me justo dar espaço à palavra dele”, declarou.

O filme desconstrói o mito de um Antonioni sisudo e revela seu bom humor e genialidade. “Antonioni era conhecido como uma pessoa de poucas palavras, incomunicável. Ele foi considerado o inventor da incomunicabilidade”, comentou Carlo. “Mas na televisão, quando a entrevista era bem feita, ele se sentia à vontade. Era assim que ele era com os amigos”.

Entre as muitas histórias que Carlo di Carlo contou, uma delas releva o caráter competitivo e difícil de Antonioni. Depois de quatro meses sem conversar com um amigo após a derrota numa partida de ping-pong, Antonioni ligou para ele convidando-o para a revanche – e venceu. “Anos depois, ele me contou que treinou durante os quatro meses num clube chinês para poder vencer aquela partida”, comentou rindo.

Di Carlo mudou-se de Bologna para Roma em 1961. Conheceu Pasolini durante a exibição de seu curta “La ‘menzogna’ di Marzabotto” (1961). Começou uma amizade com ele e Antonioni, cineastas que, em suas palavras, “não se gostavam culturalmente”. Foi assistente de direção de Pasolini nos filmes “Mamma Roma” (1962) e “A Raiva” (1963), e assistente, amigo de longa data e responsável pela dublagem italiana de produções internacionais de Antonioni. “Quando nos conhecemos eu tinha 23 anos, crescemos muito como amigos. Viajamos muito juntos”.

Em 2004, di Carlo foi sozinho acompanhar a primeira exibição de “China” (1972), de Antonioni, no país - o cineasta estava debilitado demais para a viagem. O documentário foi proibido pelo governo chinês durante a Revolução Cultural. “Antonioni não entendia a proibição de algo que tinha feito com tanto amor. Ele não era ativista”. Esta visão fez com que o diretor fosse considerado um cineasta apolítico - mais um mito que di Carlo tratou de desmistificar: “Ele era uma pessoa de esquerda, mas não era militante. Os cineastas de esquerda do pós-guerra o acusavam de apolítico porque ele tratava da burguesia em seus filmes. Não tratava os problemas no preto ou no branco, mas em nuances de cinza que existiam entre eles”.