Jornal da Mostra

31/07/2007

DEPOIS DE BERGMAN, ANTONIONI SILENCIA MAIS AINDA O CINEMA

Juri da 47ª Mostra
Juri da 47ª Mostra Um dia depois de ser anunciada a morte de Ingmar Bergman, sabemos da morte de outro mestre do cinema, o italiano Michelangelo Antonioni, o arquiteto do existencialismo, o maestro da incomunicabilidade que contagiou platéias, desdo os anos 60 com filmes imortais como L’AVVENTURA, L’ECLISSE, IL DESERTO ROSSO, BLOW-UP, ZABRISKIE POINT e PROFESSIONE: REPORTER. Antonioni andava nos últimos anos em cadeira de rodas, imobilizado com a metade direita de seu corpo depois de um derrame sofrido em 1985. Sem poder mais falar, dedicava-se à pintura, exercitando à perfeição as articulações com a mão esquerda. Primeiro pintou uma série de quadros com paisagens alpinas, montanhosas. Depois passou para o figurativo, também fazendo muito sucesso nas exposições que a sua mulher Enrica promovia por galerias e museus europeus. Na sua casa, em Roma, em 1991, Antonioni nos recebeu para decidirmos juntos qual de suas pinturas seria escolhido para ser o cartaz da 15ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (veja abaixo). Ele pareceu não gostar da sugestão que lhe dei de se comunicar através de um computador adaptado para esse fim, como já conhecia vários em uso pelo mundo. Preferia se fazer entender através da mulher que, por vezes, também demorava para interpretar o que ele balbuciava. O mestre surpreendia a cada vez que parecia estar entregue ao seu destino. Para quem pensava que Antonioni nunca mais filmaria depois de IDENTIFICAZIONE DI UMA DONNA, de 1982, a surpresa foi o anúncio, em 1992, do início da produção do filme AL DI LÀ DELLE NUVOLE/ BEYOND THE CLOUDS (seleção 19ª Mostra), com o estímulo e a colaboração do cineasta alemão Wim Wenders. O filme só ficou pronto em 1995 e não foi bem recebido pela crítica italiana, o que muito magoou ao mestre. Pior seria com a apresentação do seu filme seguinte no Festival de Veneza de 2004, quando IL FILO PERICOLOSO DELLE COSE, parte do longa em episódios EROS, com mais direções de Steven Soderbergh e Wong Kar-wai, foi tão mal recebido que Antonioni resolveu remontar o episódio. O vício do cinema em velocidade e o controle remoto sobre as mentes de novas gerações de jornalistas vitimaram mais de uma vez o mestre da incomunicabilidade. Com sua visão premonitória sobre o futuro do cinema, já em 1980, Michelangelo Antonioni se anteciparia ao apresentar IL MISTERO DI OBERWALD, inteiramente rodado em vídeo e depois transferido para película. Com IL MISTERO... ele voltaria a filmar pela última vez com a sua musa Monica Vitti. Uma surpresa experimental e tanto depois da excelente repercussão de seu filme PROFESSIONE: REPORTER, de 1975, com distribuição americana internacional. Em 1995 Michelangelo Antonioni recebeu Oscar honorário em Hollywood. A estatueta ficou pouco menos de um ano na estante de sua casa. No natal do ano seguinte o seu apartamento foi roubado e seu troféu desapareceu para sempre.